segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A polêmica do Brasileiro de 1987


Eu sei que esse assunto já deu o que tinha que dar e que muita gente não aguenta mais essa lenga lenga em torno do Brasileirão de 1987, inclusive eu, que nunca escondi de ninguém que tenho paixão pelo Flamengo, paixão aliás herdada de família. No entanto serei obrigado a voltar ao assunto, porque muitos amigos meus vascaínos, tricolores e botafoguenses insistem em me encher o saco dizendo que o Flamengo é tetra brasileiro, e não penta.

Circula na net, há bastante tempo, um texto que aponta os fatos e explica de uma vez por todas como foi aquele campeonato de 87. Eis o texto, na íntegra. Caso não queira se dar ao trabalho de ler tudo, leia apenas as partes destacadas em negrito:

"Em 1987, a CBF não tinha um tostão furado nos bolsos, graças ao descrédito em que havia mergulhado. O público estava exausto da baderna que sempre imperou na entidade, estava cansado dos campeonatos com duzentos, trezentos times. ( O Campeonato Brasileiro de 1986 tinha 44 clubes disputando o título !) Ninguém mais se dispunha a investir em um campeonato realizado sob esses moldes amadores. Havia o risco, bastante real, de não ser realizado o campeonato nacional daquele ano por inexistência de recursos. Diante de tal ameaça, os treze maiores clubes do Brasil, liderados pelo Sr. Carlos Miguel Aidar, Presidente do São Paulo, correram atrás de patrocínio e organizaram o seu próprio campeonato. Chegaram ao consenso de que o número ideal de participantes seria de dezesseis equipes, de modo que convidaram mais três para se juntar a eles. A CBF, cujas más administrações era a única responsável pela situação, não se opôs a que o campeonato dos dezesseis substituísse a antiga fórmula do Campeonato Brasileiro. Começava ali a maior revolução da história de nosso futebol. Começava ali um campeonato muito mais racional, em que todos jogavam contra todos, e não eram divididos em infinitos grupos, como vinha se fazendo até então. Tudo muito limpo, tudo muito organizado... até a CBF resolver deturpar a idéia. Ocorre que a entidade regente de nosso futebol era capitaneada pela dupla Otávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid, de longe os mais impopulares dirigentes da CBF em todos os tempos. Ambos se mantinham no poder graças à estratégia de se apoiar nos clubes pequenos. Eram os clubes de pouca expressão que os sustentavam no comando, e a esses mesmos clubes parecia acintosa a idéia de se realizar um campeonato só com as grandes forças. Otávio e Nabi, tremiam de medo ante a possiblidade de os clubes constatarem que não precisavam da CBF para nada. Bastaria uma exploração racional de sua popularidade para que eles próprios pudessem gerir o campeonato nacional, organizando uma liga, como ocorre na Inglaterra, na Itália e na Alemanha.
Esses clubes (de maior torcida), se rebelaram contra a CBF, criando o "Clube dos Treze" e impondo a criação de um campeonato enxuto com essa "elite". E no ano de 1987 se realizaram dois campeonatos paralelos, o "Módulo Verde", do "Clube dos Treze", com 16 clubes, e o "Módulo Amarelo", com 15 clubes, caracterizando assim uma primeira divisão e uma segunda divisão.
Mas essa mudança contrariava os estatutos da FIFA, que determina que só a entidade nacional (CBF) aponta clubes participantes das competições internacionais. Pelo regulamento, se estabeleceu que o campeão do "Módulo Verde" seria o detentor do título de "Campeão Brasileiro" daquele ano de 1987. Para apontar os participantes brasileiros na competição sul-americana do ano seguinte e para acomodar os interesses dos pequenos clubes, a CBF meteu-se no regulamento de um campeonato do Clube dos 13, determinando que se faria uma nova competição quadrangular com os campeões e vice-campeões dos módulos.
Ocorre que o Flamengo, campeão, e o Internacional (RS), vice-campeão do "Módulo Verde", se negaram a fazer o quadrangular que apontaria os participantes brasileiros na competição internacional. E a CBF, em represália, também descumpriu o regulamento, declarando o vencedor do "Módulo Amarelo" o "Campeão brasileiro de 1987" e dando as vagas internacionais para o Sport e o Guarani (de Campinas, São Paulo), respectivamente campeão e vice-campeão do "Módulo Amarelo", idéia torpe de fazer com que o título fosse decidido entre os campeões do torneio dos times grandes e o dos pequenos. Uma idéia que repugna à lógica, no melhor estilo das criações geniais de nossa cartolagem. A primeira questão que devemos enfrentar é: a CBF tinha a legitimidade de se imiscuir na regulamentação de um campeonato em cuja organização ela não ajudou em nada? A CBF, responsável pelo estado quase falimentar de nosso futebol, poderia se meter a criar regras para um campeonato concebido justamente para que a bagunça e a politicagem da CBF fossem enterradas de uma vez por todas? É claro, é evidente que não! Pois bem: a CBF fez das suas e inventou a tal regra que previa a disputa do título nacional pelos campeões dos dois torneios, ou melhor, dos dois módulos. Os times grandes jogariam o Módulo Verde; os pequenos disputariam o Módulo Amarelo. Timidamente, inconscientes de sua própria força, os grandes clubes, por meio de coação, acabaram aceitando a idéia, mas, posteriormente, quando perceberam o sucesso de sua concepção de um campeonato racional, resolveram peitar a CBF e não se submeter aos seus ditames irrazoáveis. Para os grandes clubes - e, portanto, para a maioria esmagadora da torcida brasileira - campeão brasileiro seria o campeão do Módulo Verde e fim de papo. Como todos sabemos, o Flamengo, com um time inesquecível - o último timaço da história de nosso futebol -, após algumas partidas memoráveis, após espetáculos de Zico, Bebeto, Leandro e, sobretudo, Renato Gaúcho, após um show rubro-negro, o clube da Gávea se sagrou campeão do Módulo Verde. Foi o melhor do torneio entre os melhores. Em qualquer país sério deste mundo de Deus, isso bastaria para que fosse considerado o campeão nacional. Mas não no Brasil. Ou, pelo menos, não naquele Brasil de Sarney e de Otávio e Nabi. Para estes dois, era indispensável que o Flamengo disputasse o título com o vencedor do Módulo Amarelo. E enquanto o Flamengo conquistava com brilho o Módulo Verde, o que acontecia no tal Módulo Amarelo?
Na primeira partida da decisão da segundona, perdão, do Módulo Amarelo, o Guarani venceu o Sport em Campinas por 2 x 0. Na partida de volta, longe, muito longe dos olhos e do coração do torcedor brasileiro, o Sport venceu por 3 x 0, o que não bastava para levantar a taça. O regulamento previa desempate por pênaltis, e lá foram os dois times, sem que a torcida brasileira tomasse conhecimento disso, lá foram os dois times decidir por pênaltis. Cada um bateu onze, e o placar continuava empatado. Diante da suprema falta de importância do resultado - afinal de contas, ambos os times já tinham garantido o acesso à primeira divisão do ano seguinte -, Sport e Guarani resolveram dividir o título, como se se tratasse de um torneio de várzea. Não houve campeão do Módulo Amarelo de 1987. Chegamos a um ponto crucial. Segundo a CBF, o título nacional haveria de ser disputado pelos campeões dos módulos Verde e Amarelo. Campeão do Módulo Verde quem era? O Flamengo. E o campeão do Amarelo? Não houve. Como, não houve? Não houve. O Sport e o Guarani dividiram o título. Qual seria a solução para o impasse? Fazer o Flamengo disputar uma partida contra um combinado de Sport e Guarani? Claro que não. É óbvio, é claro que o título deveria ser conferido, de uma vez por todas, ao Flamengo. E com muita justiça, afinal, o Flamengo fora o melhor entre os melhores. Acontece que as coisas não funcionam assim para a CBF. Consciente de sua força, o Flamengo, representando todos os clubes de grande torcida do Brasil, se recusou a decidir o que quer que fosse contra Sport ou Guarani. Não havia campeão do Módulo Amarelo, o Flamengo não tinha mesmo porque botar em jogo o seu título. E mais: disputar essa patética final seria se curvar à CBF de Otávio e Nabi. Seria um retrocesso para o futebol nacional. E o Flamengo, como um cruzado da mais nobre das causas, enfrentou a CBF. No final das contas, no ano seguinte, a CBF tratou de dar um jeitinho de Sport e Guarani terminarem aquela disputa de pênaltis interrompida pela indiferença de ambos.
No ano seguinte, o Sport venceu o Guarani nos pênaltis. No ano seguinte, quando o Flamengo nem se lembrava da celeuma, quando o Flamengo não tinha mais o mesmo time, quando o Flamengo não vivia mais a mesma boa fase. É óbvio que o Flamengo se recusou, de novo, a jogar com quem quer que fosse. Foi a deixa para que a CBF entregasse o título de mãos beijadas ao vencedor da segundona. Aliás, a um vencedor que conquistou o título da segundona de um modo não muito transparente, quod erat demonstrandum. Eis aí a base histórica para qualquer argumentação. Considero simplesmente absurdo, ou simplesmente idiota, que alguém negue o título do Flamengo em 1987 sem conhecer tais fatos, baseando-se apenas no pronunciamento da CBF sobre o assunto.
Baseando-se apenas no fato de que, em algum lugar nos empoeirados arquivos da CBF, há um livrinho em que consta que o Sport foi campeão daquele ano, após essa vergonhosa história que ele - o que nega o título do Flamengo - desconhece. Creio que isso é o bastante para que qualquer indivíduo com um mínimo de juízo dê razão à torcida do Flamengo quando grita, convicta de seus méritos, "Pentacampeão". Pois o Flamengo conquistou aquele título na base da raça, do suor, do amor à camisa. E só não o botou à prova contra quem quer que fosse por uma questão política: naquele momento, o Flamengo representava os anseios dele, do Corinthians, do São Paulo, do Vasco, do Inter, do Atlético Mineiro... de 95% da torcida brasileira, contra a camarilha que dominava a CBF e mantinha nosso futebol num atraso medieval diante dos avanços europeus. Pois, creiam em mim, se o Flamengo tivesse ignorado a questão política, e tivesse jogado contra o Sport, teria massacrado o timinho pernambucano.
Do elenco carioca, dez jogadores passaram pela Seleção Brasileira. Dez! Do quadro pernambucano, nem um único e escasso jogador teve esse privilégio. Mas, pesando as suas prioridades, o Flamengo entendeu por bem se contentar com o reconhecimento do povo, e ignorar solenemente a opinião de Otávio e Nabi sobre o assunto. E, convenhamos, o Flamengo estava coberto de razão. Pois ser campeão não significa - nunca significou - ter o seu nome inscrito num empoeirado livrinho, roído por traças e coberto por teias de aranha, nos arquivos da CBF. Ser campeão é ter alma de campeão, é sentir-se como tal. É saber que venceu a tudo e a todos quando foi necessário. É ser o melhor entre os melhores. Em suma, é campeão quem comemorou o título. E a torcida do Flamengo comemorou como ninguém. O país parou para ver a final entre Flamengo e Internacional, para ver 95 mil pessoas comparecerem ao Maracanã a despeito do dilúvio que inundara o Rio de Janeiro naquele 13 de dezembro de 1987. O país parou e a torcida do Flamengo deixou o Maracanã com a íntima convicção de que era a campeã brasileira. Por outro lado, eu me pergunto quem viu o jogo entre Sport e Guarani. Alguém viu? Alguém largou o que estava fazendo para ver pela televisão os dois times dividirem o título da segundona? Alguém se importou em fazê-lo? O país parou para ver o Sport campeão do Módulo Amarelo? Não. E eu considero inconcebível que, no país do futebol, um time conquiste um Campeonato Brasileiro sem que toda a nação tenha parado para ver a decisão, como vem fazendo ano após ano após ano. E, se a CBF teima em considerar campeão um time que conquistou seu dúbio título longe dos olhos de todos, azar da CBF. Sinal de que ela não entende nada de futebol. E a torcida do Flamengo, a maior da Terra, pode continuar enchendo a boca para gritar "Pentacampeão". "

E então, alguma dúvida de quem é o campeão? Contra fatos não há argumentos! E se você, mesmo após ter lido este texto, continuar dizendo que o campeão de 1987 é o Sport, digo com sinceridade: Vá tomar no cu!

2 comentários:

jhbpessoa disse...

O Sport foi campeão do módulo amarelo, o Guarani abdicou do título antes de serem marcados os jogos da semifinal e final do campeonato brasileiro de 1987. Seu texto tem apelo clubístico e é cheio de meias verdades. Como um blog medíocre como esse não precisa ter compromisso com a verdade, deixo que os não instruídos acreditem em qq besteira q leem em blogs ou vejam na rede globo.

Davi (rubro-negro flamenguista) disse...

Como pode André, o SPORT CLUB DO RECIFE e o GUARANI de Campinas serem os campeões da segundona se no ano seguinte o próprio Guarani foi vice campeão? Isso mesmo o campeão do ano 1986 foi o São Paulo e o vice foi o Guarani de Campinas. Agora me responda como foi que rebaixaram o vice de 86 para a segunda divisão em 87? Me responda se for capaz. Outra coisa a partida decidida aqui em Pernambuco foi sim vista por todo o Brasil, pois a Band e o SBT veicularam noticias so bre a partida. Se a Globo não mostrou problema dela e de quem é limitado a só assistir um canal de TV feito você, aí não sabe nem falar de um fato. POIS É CONTRA FATOS NÃO HÁ ARGUMENTOS.